terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA, AS DUAS INQUISIÇÕES



Muito se fala e se sabe a respeito da santa inquisição, desnecessário é comentar acerca dos séculos de perseguições, torturas e assassinatos cometidos pela Igreja Católica Apostólica Romana em nome de Deus. O assustador é que, ainda hoje, existem pessoas que tentam justificá-la recorrendo a teorias capengas, dentre elas a mais estranha é que a “igreja é santa e pecadora”. ?????

Todavia, pouco se comenta e nada se vê nos livros didáticos acerca da inquisição protestante, tão sistemática em sua brutalidade quanto a sua congênere católica. Os reformistas estavam cobertos de razão ao se insurgir contra os abusos cometidos pela igreja, então, oficial. Porém, como de praxe, quando institucionalizado o protestantismo, e este tornou-se religião oficial principalmente dos países escandinavos pela conversão e vontade soberana de seus monarcas, os reformistas passaram  a adotar o mesmo modelo utilizado pelo santo ofício.

Na Suíça, um dos berços da Reforma  e onde ela se mostrou bastante radical, João Calvino (1509-1564), que devido a autoridade que exercia sobre os protestantes suíços, ficou conhecido  como o “papa de Genebra”. Ao organizar a Igreja Presbiteriana, instaurou comissões compostas de religiosos e leigos: a Venerável Companhia, responsável pelo magistério, e o Consistério, que zelava pela disciplina religiosa, a população era proibida de cultivar certos hábitos, como jogar, dançar e representar. Para isso, fundou a “polícia da fé” promovendo  visitas a residências e espionagens, em busca de confissões e denúncias levando muitos à prisão, à tortura, ao julgamento e, em  alguns casos, à morte.
 
Ainda Calvino, considerado o pai dos presbiterianos, mandou queimar o espanhol Miguel Servet Grizar, médico descobridor da circulação sanguínea. Acusado de heresia, Servet foi preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu evadir-se da prisão e quando se dirigia para a Itália, através da Suíça, foi novamente preso em Genebra, julgado e condenado a morrer na fogueira, por decisão de um tribunal eclesiástico sob direção do próprio Calvino. A sentença foi cumprida em Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27 de outubro de 1553. Puseram-lhe na cabeça uma coroa de juncos impregnada de enxofre e foi queimado vivo em fogo lento com requintes de sadismo e crueldade.

Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546), quem não o conhece dos livros de história em retrato pintado por Lucas Granach, exigiu perseguições aos Anabatistas, grupo protestante mais radical da Reforma, porque, entre outras questões, eles não aceitavam as regras da Igreja Evangélica e divergiam sobre o batismo. A decisão causou a expulsão, o encarceramento, a tortura e a execução de cerca de 30.000 camponeses. Lutero também divulgou textos com críticas aos judeus – embora sem maiores repercussões na época, estes escritos acabariam utilizados pela Alemanha nazista, em pleno século XX.

A inquisição protestante também tem seu Torquemada, O luterano Benedict Carpzov, foi legista brilhante e figura esclarecida. Perdia a compostura quando o assunto era a bruxaria, que considerava merecedora de torturas três vezes intensificadas com respeito a outros crimes, e cinco vezes punível com pena de morte. Protestante fanático, afirmava, quando velho, ter lido a Bíblia inteira 53 vezes. Assinou sentença de morte contra 20.000 bruxas, apoiando-se principalmente na "Lei" do Antigo Testamento. Não compreendendo o verdadeiro significado da Bíblia, considerava o Pentateuco como lei promulgada pelo próprio Deus, Supremo Legislador. Carpzov, para condenar a morte, usava (Lv 19,31; 20,6.27; Dt 12,1-5), citava de preferência o Êxodo (22,18); "Não deixarás viver a  feiticeira".


Outro famoso perseguidor de bruxas na Alemanha, foi Nicholas Romy, considerado grande especialista e que escreveu um longo tratado sobre bruxaria, teve sobre sua consciência a morte de 900 pessoas.

Froehligh, reitor da Universidade de Innsbruck e catedrático de Direito, que chegou a ser chanceler da Alta Áustria, insistia na condenação não só das supostas bruxas, mas também de seus filhos! E não se precisava muito para ser considerada bruxa, pois o seria qualquer pessoa que não tivesse um olhar franco.

Franz Buirmann, pervertido magistrado protestante e degenerado inimigo da bruxaria. Era um juiz itinerante. Referindo-se a ele dizia seu contemporâneo Hermann Loher: "Preferiria mil vezes ser julgado por animais selvagens, cair numa fossa cheia de leões, de lobos e ursos, do que cair em suas mãos".

Deste impiedoso juiz se afirma que somente em duas incursões que realizou por pequeninas aldeias ao redor de Bonn, que perfaziam um total de 300 pessoas contando-se crianças e velhos, queimou vivas nada menos que 150 pessoas! Consta que ao menos em duas oportunidades (da viúva Boffgen e do Alcaide de Rheinbach), o juiz se apoderou de todos os bens dos condenados à fogueira (o Alcaide de Rheinbach era um notório inimigo político).

Em Bamberg, sob a administração de um bispo protestante, queimou-se 600 pessoas. Na Genebra protestante, foram queimadas 500 pessoas no ano 1515. 

W. A. Schoeder, contemporâneo aos fatos, anotou que nas localidades de Bamberg e Zeil, entre 1625 e 1630, (5 anos) se realizaram nada menos que 900 processos de bruxaria. Deles (numa exceção), 236 terminaram com condenação à morte na fogueira. Só num ano, 1617, em Wurzburgo, foram queimadas 300 bruxas; no total na região, as atas apresentam l.200 condenações à morte

Em 20 anos, de 1615 à 1635, em Estrasburgo, houve 5.000 queimas de bruxas

Em cidades pequenas como a imperial Offenburg, que só tinha entre dois e três mil habitantes, se desenvolveram acérrimas perseguições às bruxas durante três decênios, e em só dois anos, segundo as atas, foram queimadas 79 pessoas
 
Na Suíça protestante, os casos de condenação de bruxas descritos nas crônicas, chegam a 5.417. Nos Alpes Austríacos, as mortes chegaram ao menos a 5.000.
 
No ano 1670, na Suécia, houve um processo deplorável: Como conseqüência das declarações, arrancadas pelos interrogatórios feitos pelos teólogos protestantes, foram queimadas 70 mulheres, açoitadas mais 56, queimadas 15 crianças que já tinham chegado aos 16 anos e outras 40 foram açoitadas.

Na Alemanha protestante, o poder civil condenou Anna Maria Schwugelin. Foi decapitada como bruxa em 1759.

A experiência persecutória européia foi ainda levada pelos Puritanos, seita protestante oriunda da Inglaterra, para as colônias na América do Norte, como no famoso episódio das “bruxas de Salem”, ocorrido em Massachusetts, em fins do século XVII, em que várias adolescentes foram mortas, acusadas de promover reuniões em torno de uma fogueira nas quais, supostamente, invocavam espíritos.

Acredito que esta lista de horrores é mais do que suficiente para corroborar minha afirmativas e estendê-la seria, além de fastidioso, desnecessário. O cerne da questão é que em matéria de crueldade e sadismo uns nada devem aos outros, e a Reforma protestante tem sua gênese no seio da própria igreja,   Pois Martinho Lutero era um clérigo católico bastante conhecido por seu estilo brilhante ao discorrer sobre matéria teológica. Mas, antes de tudo um homem. Não é a nossa inclinação religiosa que nos define como homens bons ou maus. Uma denominação religiosa não é superior a qualquer outra.

O que se subsume do assunto em questão é que tanto uns quanto os outros, tem matado mais em nome de Deus do que aqueles que não professam nenhum tipo de credo. Após pesquisar detidamente sobre o tema, e de forma auto didática, penetrar na seara da religião comparada, só me restou a imparcial via do agnosticismo e da cautelosa busca de um senso de justiça que tem como broquel a tolerância e a moderação. Desviar-se disso é virar presa fácil do fanatismo e da ignorância que apaga o lume do mundo.
By Douglas Martínez  

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