NEM
CÉU, NEM INFERNO!
Certa noite sem nada para
fazer, escutava um programa em uma rádio evangélica local. No qual o pastor, como
se Deus fosse surdo e os ouvintes também, bradava a plenos pulmões contra, de
acordo com o mesmo, alguns programas evangélicos que transmitem mensagens de
ouvintes, também evangélicos é claro, procurando relacionamento com evangélicas
de 14 a 25 anos. Até aí nada de anormal.
Porém, dizia o pastor que
isso caracteriza crime de pedofilia, acusando o Ministério Público de inércia.
Acrescentando, ainda, que “essa
porcaria de namoro não está na bíblia”, que se tratava apenas de prostituição da mais comum??? E existe outro
tipo? E que, se era prostituição que procuravam, não era preciso ir muito longe,
pois a internet estava bem aí à
disposição de todo mundo.
Ora o desinformado e
preconceituoso pastor ofende toda a sociedade mundial, que sempre viu na corte,
no namoro casto, desde que com critérios determinados por cada grupo social, um
meio lícito e recomendável de aproximação e conhecimento de caracteres pessoais
dos potenciais nubentes. Ademais, a quase totalidade da população do planeta
utiliza a internet para vários e benéficos fins. Ninguém pode negar as mudanças
positivas que a internet trouxe para a
civilização moderna como eficaz instrumento de comunicação e de difusão de
informações, cultura e lazer.
Entretanto, se algumas
pessoas, minoria numericamente desprezível, resolve se utilizar da internet
para fins outros que não os recomendáveis, isso não autoriza ninguém a
atacar-lhe exigindo qualquer tipo de retaliação. Se assim fosse, uma inocente faca de cozinha, onipresente em todos os lares
do mundo, instrumento indispensável nas mãos das pacíficas donas de casa para o
preparo de nossos repastos, deveria ser banida de nossas casas somente porque
um malfeitor resolveu utilizá-la para um fim outro, além daquele para o qual
foi concebida.
Essa espécie de
direcionamento fundamentalista do credo, não importa qual seja a denominação,
tem que sempre ser visto com muita cautela, pois temos relatos de experiências
desastrosas recentes. Não devemos esquecer o caso do Pastor Jim Jones da
República da Guiana; do caso daquela comunidade evangélica comandada pelo
pastor David Koresh, dentre outros que terminaram em episódios de suicídio
coletivo e outros tipos de violência e intolerância.
As pessoas pensam,
equivocadamente, que as trevas do fanatismo religioso medieval ficaram no
passado, circunscritas aos livros de história. Ledo engano, estão mais perto do
que se imagina. Estão dentro do coração do homem, e vem à tona sempre que um
líder religioso apaga a luz do racionalismo que deve nortear os rumos de seu
rebanho e o incita a adotar comportamento intolerante com as diferenças de
qualquer natureza. A dividir a humanidade entre salvos e perdidos, puros e
pervertidos, crentes e não crentes. Isso é assustadoramente perigoso.
By Douglas Martínez
Nenhum comentário:
Postar um comentário